Disfagia: Um vilão muitas vezes silencioso
A deglutição é um processo complexo, que pode ser realizada sobre controle voluntário ou involuntário do indivíduo, e envolve 4 fases: antecipatória, oral, faríngea e esofágica.
De forma resumida, compreende-se que a primeira fase da deglutição, fase antecipatória é uma etapa voluntária, na qual consiste a escolha do alimento pelo indivíduo. Após a escolha, o indivíduo introduz esse alimento à boca, caracterizando, já nesse momento, a segunda fase da deglutição: a fase oral. Essa, também considerada fase voluntária, consiste, além da introdução do alimento à boca, na mastigação do mesmo e formação do bolo alimentar.
A partir desse momento, entra-se na terceira fase da deglutição: a fase faríngea. Essa com característica involuntária, considerada reflexa, compreende diversas etapas para a deglutição efetiva do bolo alimentar, desde a propulsão do bolo alimentar pela língua até o início da garganta (faringe) até a deglutição propriamente dita. Por fim, chega-se na quarta e última fase relacionada ao processo de deglutição: a fase esofágica. Essa, também considerada involuntária, consiste na condução do bolo alimentar deglutido até o estômago.
Quando o indivíduo apresenta alguma dificuldade de iniciar a deglutição ou sente que os alimentos estão retidos de algum modo no trânsito do alimento até o estômago, ele apresenta disfagia. Esta pode ter como causa aspectos neurológicos, mecânicos, psicogênicos ou por envelhecimento, ocasionando a entrada de alimentos sólidos ou líquidos, incluindo saliva e secreções, na via aérea.
A disfagia está relacionada com consequências importantes como tosse, sufocação ou asfixia. Até situações mais graves como problemas pulmonares derivados da aspiração do alimento, desidratação, desnutrição e perda de peso e sepses, são resultados característicos da aspiração decorrente da disfagia. Uma vez presente, a disfagia contribui para aumentar a morbimortalidade dos pacientes, principalmente dos idosos, principal grupo de risco para a doença. Sua incidência pode chegar a 33% nos atendimentos de urgência, e alguns estudos realizados em casas de repouso para idosos tem mostrado que 30 a 40% dos pacientes têm distúrbios de deglutição, resultando em alta incidência de complicações por aspiração.
Diversos fatores interferem na eficiência da deglutição, dentre eles, a consistência do bolo alimentar, o volume de alimento ingerido, a temperatura, a característica anatômica dos indivíduos e a integridade dos músculos e nervos envolvidos no processo de deglutição.
É extremamente importante que os profissionais de saúde especializados façam o diagnóstico dos quadros de disfagia, além de definir cuidadosamente a localização da sensação de distúrbio de deglutição. Parte do seu tratamento consiste em alterações na consistência e textura da alimentação, associada a manobras fonoaudiológicas, para fortalecimento dos músculos envolvidos no processo de deglutição. A terapia nutricional deve ser parte da terapêutica para prevenir ou evitar o agravamento dos quadros de desnutrição e aspiração.
Normalmente, pacientes disfágicos, não alcançam as suas necessidades nutricionais, por meio da alimentação habitual, mesmo com alterações de textura e consistência. Ainda, cabe salientar que a disfagia é um fator contribuinte para a desnutrição, tendo em vista à baixa qualidade alimentar que o paciente apresenta em decorrência da alteração da consistência dos alimentos. A desnutrição também pode ser um fator contribuinte para o processo disfágico, afinal, em pacientes gravemente desnutridos, há uma degeneração muscular que engloba, primariamente, os músculos envolvidos no processo de deglutição. Assim, esses pacientes gravemente desnutridos, apresentarão dificuldades para deglutir.
Tendo todo este quadro em vista, a utilização da suplementação nutricional oral que forneça aporte energético e proteico com consistência adequada para os diferentes tipos de disfagia tem papel fundamental na prevenção e no combate da desnutrição desses pacientes.
Fonte:
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